Amor que resiste: Conexão entre cavaleiros e cavalos
Quando a paixão pelos Cavalos permanece - Relincho #68
Há alguns anos, tive a oportunidade de conversar com duas pequenas de 6 anos que são apaixonadas por cavalos. As duas meninas, que faziam aulas de equitação no Haras onde eu treinava, compartilhavam um entusiasmo contagiante pelo hipismo. Uma delas revelou que seu maior sonho era montar a cavalo e que pedia todos os dias aos pais para levá-la a uma escola de equitação. A outra confessou que não consegue dormir à noite porque sua cabeça está sempre pensando em cavalos.
Durante uma das aulas, enquanto era puxada no cavalinho baio da escola, uma delas gritou: "Como eu amo esse cavalo!" Já a outra não conseguia conter o sorriso durante toda a aula de equitação.
Achei encantadora a maneira como essas pequenas expressam seu amor pelos equinos. Antes mesmo de ter a primeira aula, elas já sonhavam em estar montadas. E depois do primeiro contato, não conseguem mais parar de pensar nesses animais maravilhosos.
Voltei ao Haras recentemente e perguntei sobre as duas garotinhas, que atualmente devem estar com uns 12 anos. Fiquei triste ao saber que elas já não estão mais envolvidas com o esporte. Isso me deixou pensando sobre o que pode ter acontecido. Talvez tenham parado de montar por questões financeiras, ou será que mudaram seus interesses?
Eu mesma comecei no esporte quando era jovem, e desde a minha primeira aula na escola de equitação do Clube Marapendi, no Rio de Janeiro, soube que não me afastaria mais dos cavalos. E assim foi.
Conheci muitas pessoas no meio hípico, e algumas delas abandonaram o esporte na adolescência ou quando começaram a faculdade. Muitas dessas pessoas nunca mais retornaram a uma hípica, enquanto outras estão voltando agora, trazendo seus filhos para o hipismo.
Tenho plena certeza de que o amor pelos cavalos nunca abandonou essas pessoas, mas, muitas vezes, a rotina ou até mesmo questões financeiras as afastaram do mundo equestre. Eu, pessoalmente, não consigo me imaginar longe dos cavalos. Já tentei praticar outros esportes, buscando algo que pudesse substituir o hipismo, mas nada se compara à conexão única que compartilhamos com os equinos.
Aqueles que foram tocados pela magia do hipismo sabem que é muito mais que um esporte—é um vínculo que, de uma forma ou de outra, acaba nos acompanhando por toda a vida.
No entanto, a vida adulta muitas vezes impõe responsabilidades e desafios que podem dificultar o retorno ao hipismo. A falta de tempo é uma das barreiras mais comuns. Entre o trabalho, a família, e outras obrigações, o hipismo, com toda a sua exigência de dedicação e compromisso, pode parecer um luxo inatingível. As aulas regulares, o tempo de prática, o cuidado com o cavalo, e até mesmo a logística de chegar ao local de treinamento, tudo isso exige tempo que muitos simplesmente não têm.
O hipismo é um esporte que envolve altos custos, desde a estabulagem e alimentação do cavalo, até a compra de equipamento especializado e o pagamento por cuidados veterinários. Para aqueles que amam o esporte, mas não têm os recursos necessários, a frustração de não poder continuar com essa paixão é muito triste.
Confesso que manter-me no hipismo tem sido um desafio, especialmente do ponto de vista financeiro. Cheguei a considerar encarar o esporte apenas como uma atividade física, algo semelhante a ir à academia duas vezes por semana para mexer o corpo e cuidar da saúde. Mas rapidamente percebi que não é a mesma coisa. Os esportes equestres vão muito além de apenas afastar o sedentarismo. O que realmente me cativa é a conexão com o animal. Essa prática descompromissada de fazer algumas aulas de adestramento por semana com um cavalo da escola simplesmente não me satisfaz. Sinto falta de montar o mesmo cavalo diariamente, de acompanhar e contribuir para a evolução dele, de cuidar pessoalmente e saber que ele está sob minha responsabilidade.
Abaixo, para os assinantes pagos do Relincho, segue o restante da reflexão.