Maus-tratos em centro hípico são tema de documentário
Imagens "chocantes" exibidas em documentário investigativo e cavaleiro é excluído da equipe nacional. - Relincho #42
O cavaleiro de adestramento dinamarquês Andreas Helgstrand, vencedor de medalhas olímpicas, foi removido da equipe nacional de adestramento da Dinamarca e denunciado à polícia após a transmissão do documentário Operation X, filmado secretamente em seu centro hípico.
Em 23 de novembro, a televisão dinamarquesa TV2 exibiu a primeira parte do documentário Operation X: Os Segredos do Bilionário dos Cavalos. O documentário só está disponível para espectadores na Dinamarca.
O programa, apresentado pelo jornalista investigativo Morten Spiegelhauer, é baseado em filmagens de uma câmera oculta por um repórter que se infiltrou como tratador no Centro Hípico Helgstrand Dressage em janeiro deste ano.
A primeira parte, começa com Morten telefonando para Andreas Helgstrand, oferecendo-lhe a oportunidade de ver as filmagens e participar de uma entrevista televisiva. Andreas recusou e tomou medidas legais.
A jornalista disfarçada Rebekka Klubien foi quem trabalhou como tratadora. Ao longo do programa, são exibidas filmagens, incluindo conversas entre Rebekka, tratadores e membros da equipe (todos desfocados) sobre o bem-estar dos cavalos, marcas de chicote e esporas.
Em uma discussão, um membro da equipe pergunta a Rebekka se ela viu as marcas de chicote nos cavalos, antes de mostrar a ela imagens em um celular. O membro da equipe confirma que vê isso acontecer frequentemente.
Mais tarde, são exibidas imagens em um celular das marcas de espora em um animal. Em seguida, são mostrados vídeos de um tratador que afirma passar regularmente pomada em um cavalo chamado Devolution para as marcas de espora, que muitas vezes sangram, e, apesar disso, seu cavaleiro continua usando esporas. O tratador afirma que Devolution às vezes volta do exercício também com marcas de chicote.
Em outra discussão, Rebekka expressa preocupações sobre marcas de chicote em um cavalo chamado Floss Dance. O membro da equipe responde que isso não era "incomum" e, quando questionado sobre o que aconteceria se alguém fosse ver um cavalo e esse tivessem marcas nas costas, ele responde que esse aninal usaria capa para cobrir as cicatrizes.
Ao longo do programa, Morten conduz entrevistas com especialistas, incluindo a veterinária Heidi Nielsen, o treinador John Randskov e a ex-amazona do centro hípico Helgstrand, Susan Kjaergard. Eles veem as fotos e filmagens, e todos os três afirmam que são lesões causadas pelo uso incorreto e violento de chicotes e esporas.
O documentário Operation X também apresenta entrevistas com ex-funcionários e cavaleiros do Helgstrand Dressage, incluindo Nanna Moller, Camilla Christensen, Silke Smevik e Sverre Smevik.
Camilla, ex-amazona, afirma que houve "muitas experiências ruins" na Helgstrand Dressage e que os funcionários tinham que assinar um contrato os impedindo de falar sobre o que acontecia.
"Eu menti muito sobre como era estar lá, porque não podia dizer o quão terrível era", disse ela, acrescentando mais tarde na entrevista que as marcas de espora nos cavalos eram cobertas com graxa.
Silke, ex-gerente de Centro Hípico, disse que o conceito na Helgstrand Dressage era "vender o máximo possível, o mais rápido possível", e que o bem-estar animal não era discutido.
Morten afirmou que, durante a produção, foi contatado por uma ex-amzona de Helgstrand que desejava permanecer anônima, devido às preocupações de que isso "prejudicaria sua carreira se falasse negativamente". Morten disse que ela enviou descrições detalhadas de como os cavalos são sujeitos a "maus-tratos" e que, após um episódio específico alguns anos atrás, os funcionários foram convocados para uma reunião e lembrados de seu "dever de confidencialidade".
Outro ponto de discussão no documentário foram as condições de trabalho da equipe. Rebekka relata trabalhar 47 horas por semana com uma taxa horária de pouco menos de 80 coroas dinamarquesas (cerca de 57 reais). Não há salário mínimo obrigatório na Dinamarca.
Ainda no documentário Rebekka aparece conversando com uma tratadora que está chorando por causa da forma como foi tratada por um cavaleiro. Um membro da equipe disse a Rebekka que estava trabalhando quando deveria ter folga, e outro disse que tinha tido apenas um dia de folga em dois meses.
Silke disse que, quando trabalhava lá, os funcionários estavam muito cansados e frustrados, e "era normal encontrar cavaleiros e tratadores chorando". Ela disse que abordou a administração sobre a melhoria das condições de trabalho e o aumento dos salários dos funcionários, e lhe disseram que os tratadores vêm e vão, e que novos podem ser encontrados.
Uma prévia da segunda parte do documentário Operation X’, mostra filmagens secretas capturadas durante sessões de treinamento. As imagens mostram cavalos sendo exercitados em rollkur, cavalos exibindo comportamento explosivo durante o treinamento e um cavalo sendo chutado agressivamente por um cavaleiro. Também mostra Rebekka expressando preocupações a Andreas Helgstrand - e ele perguntando se ela está filmando a conversa.
Na noite passada, Helgstrand Dressage emitiu um comunicado dizendo que as filmagens da TV2 causaram "uma grande comoção" no haras.
"Isso não está certo. Este é um mau manejo e tratamento de cavalos que não queremos ver no Helgstrand Dressage. Não corresponde às nossas diretrizes e valores estabelecidos, e não é uma expressão de nossa cultura. Precisamos consertar isso", diz o comunicado.
"Aqui no Helgstrand Dressage, treinamos aproximadamente 350 cavalos por dia. Assim como os especialistas, também podemos ver que, em alguns casos, há comportamento de conflito nos programas. Isso é inaceitável e estamos reagindo a isso."
O comunicado diz que o Helgstrand Dressage emprega 60 cavaleiros e tratadores profissionais, e é responsabilidade do haras garantir que as diretrizes sejam seguidas e que os métodos de treinamento sejam "usados corretamente e sempre tenham a saúde e o bem-estar do cavalo como a prioridade mais importante".
"Podemos ver que alguns de nossos equipamentos de treinamento foram usados incorretamente durante as filmagens. Eles devem guiar e corrigir o cavalo, mas nunca devem ser usados como punição", diz o comunicado.
O comunicado conclui que a direção do Helgstrand Dressage optou por não participar do documentário Operation X, pois o haras é contra o uso de gravações ocultas pela TV2.
"Mas não deve haver dúvida de que levamos o conteúdo muito a sério", diz o comunicado.
Desde a transmissão, houve uma forte reação em toda a indústria equestre.
A organização de bem-estar animal sem fins lucrativos Dyrenes Beskyttelse (Proteção Animal Dinamarca) foi uma das primeiras a condenar a Helgstrand Dressage. Em um comunicado emitido, a organização disse estar "chocada" com o documentário.
Um porta-voz da Dyrenes Beskyttelse disse que a organização denunciou a Helgstrand Dressage, Andreas Helgstrand e os cavaleiros associados à polícia dinamarquesa por crueldade animal. A organização também apelou à federação equestre dinamarquesa, Dansk Ride Forbund (DRF), para sancionar Andreas e os cavaleiros participantes.
Em um comunicado emitido ontem, a DRF confirmou que seu conselho realizou uma reunião após assistir às transmissões do Operation X. O pai de Andreas, Ulf Helgstrand, é presidente da DRF, mas tirou licença deste cargo em setembro, e o presidente interino da DRF é Jacob Ravnsbo.
O resultado da reunião é que Andreas, que representou a Dinamarca em oito campeonatos e fez parte da equipe que conquistou a medalha de bronze europeia em setembro, foi excluído da equipe nacional e das atividades da equipe.
"Está claro que Andreas Helgstrand, com base nas transmissões, não pode mais representar a federação equestre dinamarquesa como cavaleiro da equipe nacional. Como cavaleiro da equipe nacional, você é, entre outras coisas, obrigado a cumprir nosso código de conduta, diretrizes para o uso ético correto de cavalos para esportes equestres, bem como agir como bons modelos."
"Os cavaleiros que participam das filmagens da TV2 estão desfocados. Portanto, o conselho incentiva fortemente os cavaleiros nas filmagens a se apresentarem diante do comitê disciplinar", diz o comunicado.
"A DRF iniciará medidas com o objetivo de identificar os cavaleiros e relatá-los ao comitê disciplinar, caso este pedido não seja atendido."
A DRF também interrompeu as competições da DRF realizadas com a Helgstrand Event. A organização hospedou campeonatos nacionais dinamarqueses, eventos da Nations Cup e competições de salto.
"Helgstrand Event faz parte do Helgstrand Group. A cultura e abordagem inaceitáveis para treinamento e tratamento de cavalos, que as transmissões claramente mostram, não são compatíveis com os valores e princípios fundamentais de bem-estar animal", diz o comunicado da DRF.
O comunicado acrescenta que a Helgstrand Event tinha um acordo com a FEI para sediar uma competição de salto da Nations Cup da Federação Equestre Europeia em maio, e que a DRF pedirá à FEI para "reavaliar o acordo".
A situação complicou para Andreas Helgstrand; resta esperar para ver como isso se desenvolverá.
NA PISTA
No documentário, foram destacadas marcas de esporas, chicotes e cortes resultantes do uso excessivo de embocaduras e rédeas auxiliares, além de práticas intensas de hiperflexão. Também há relatos de exploração de funcionários. Um repórter tomou conhecimento desses fatos e optou por documentá-los em um programa de TV. No entanto, surge a pergunta: não haveria material no Brasil para um documentário semelhante ao dinamarquês?
Me conta se você já presenciou alguma dessas situações acontecendo na sua hípica.
PADDOCK
Esta semana, a descoberta no Instagram foi um cavaleirinho muito talentoso. Veja quanta habilidade!
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