Os esportes equestres não são crueldade! - Relincho #20
O Relincho dessa semana tem um convidado que veio para falar sobre os esportes equestres serem ou não maus-tratos!
Através do Hipismo&Co, tive a oportunidade de conhecer diversas pessoas que, assim como eu, compartilham uma paixão profunda por cavalos e adoram conversar sobre o mundo equestre. Entre essas pessoas, destaco o Darko, um domador e especialista em comportamento equino. Com ele, tive a incrível oportunidade de aprender muito e, ao longo do tempo, nos tornamos grandes amigos e parceiros de trabalho.
E nesta newsletter, vocês terão acesso a um dos textos escritos pelo meu amigo Darko. O tema pode ser polêmico, mas é extremamente relevante para o momento atual dos esportes equestres, especialmente considerando a intenção de ativistas em encerrá-los.
Com a palavra, Darko Magalhães:
Esporte equestre não é maus-tratos!
As redes têm um problema muito ruim, que eu acho que é a falta de critério, interpretação de texto. As pessoas colocam tudo no mesmo saco, chacoalham e jogam no seu prato. Não, esporte não é maus-tratos, e eu vou defender essa ideia com vocês ponto a ponto.
Vamos lá! Primeiramente, eu não estou me dirigindo aqui aos ativistas animais radicais. Eles não têm solução, não debatem, não ouvem, não sabem nem onde fica o rabo e se orgulham disso, dizendo coisas como: "se monta cavalo, quero nem saber!" Essas pessoas não me interessam, e provavelmente não interessam a você também, por isso estão cada vez mais isoladas em sua própria bolha.
Mas estou me dirigindo a você que está envolvido no ramo ou que chegou recentemente. A primeira coisa que precisamos entender é que não podemos voltar atrás no "desenvolvimento" que nossa sociedade teve em relação aos cavalos. Uso as aspas em "desenvolvimento" porque talvez esse não seja o termo mais adequado, mas vocês entenderam a ideia.
Podemos sim melhorar o que temos, e isso é um dever ético de todos, mas mudar e voltar atrás, desculpa, não é realista.
Por exemplo, sempre ouço a seguinte frase: ah, o certo é esses animais estarem vivendo na natureza, tinham que ser soltos na natureza. Esta frase é quase sempre seguida de: como o homem é mau!
Bem, vamos por partes. Natureza? Que natureza, amigo? Para começar, o "conceito de natureza" já é bastante deturpado, certo? O que precisamos para "soltar os cavalos na natureza" é de terra. Terra é motivo de morte nesse país, de grilagem, contrabando, de bancadas políticas que se unem em prol dos mesmos interesses, terra. Estamos em 2023 e cada centímetro de terra está em disputa, com violência.
Mas, vamos supor que milagrosamente fôssemos agraciados por um punhado de terra e lá pudéssemos soltar alguns cavalos! Quais cavalos, qual raça, qual programa de controle, que órgão fiscalizador? Essa terra milagrosa tem as condições necessárias? Entende o tamanho da complexidade que isso significa?
Você sabe que um cavalo domesticado tem uma expectativa de vida de aproximadamente 28 anos. Em ambiente selvagem, um cavalo vive de 8 a 12 anos, no máximo. A maioria das causas de morte são por hemorragia causada por excesso de lombriga. Eles não têm acesso a antibióticos, anti-inflamatórios ou qualquer medicamento. Assim como eles não têm acesso a veterinários, ferradores, odontologistas, treinadores, piquetes, tratadores, serragem, segurança... e a lista aqui é gigante. Em ambiente selvagem, um cavalo não tem direitos, em ambiente selvagem ele é presa. Olha que engraçado, em ambiente doméstico eu posso até usar o termo "direitos" sem você achar isso estranho, hoje existe a Declaração Universal dos Direitos dos Animais.
E aqui preciso esclarecer que não faço um discurso maniqueísta de supor que a "natureza" seja ruim, longe disso. Todos sabemos que o meio ambiente, a preservação da natureza, flora e fauna é uma questão de sobrevivência da nossa espécie também. Não dá para amar o cavalinho e ignorar tudo o mais.
Mas dizer que cavalos são explorados pelo esporte, como eu disse, é falta de entendimento ou má fé.
Só um parêntese importante: por 200 mil anos, a expectativa de vida do Homo sapiens foi abaixo de 30 anos de idade. Até o início do século passado, nossa expectativa de vida era de 34 anos. Somente a partir dos anos 40, com a descoberta da penicilina, vacinas e avanços na ciência, chegamos onde estamos agora. Até bem pouco tempo atrás, nossa expectativa de vida era como a de um cavalo domesticado! Que fique claro.
E agora uma provocação honesta! O que eu acho sinceramente irônico é ver que as pessoas que geralmente são contrárias ao esporte equestre não estão interessadas em abrir mão de suas regalias modernas. Querem penicilina para si, os cavalos que se virem. Tenho uma teoria sobre isso: na verdade, isso acontece porque vemos eles como "animais", pejorativamente falando, mas não nos enxergamos como tal! Ou seja, quem deve retornar ao ambiente selvagem são os animais, mas eu não sou assim! Esse é o grande equívoco. Sim, ponha isso na cabeça, você e eu, somos animais como todos os outros. Animal, literalmente, claro!
Aproveitando a deixa: mas os "animais" não podem escolher, nós podemos! Vamos lá: Eu acho que este é o não-argumento mais irritante e realmente complicado de debater! Quando apelamos para a subjetividade, trata-se de um argumento praticamente de ordem filosófica e para falarmos de maneira séria, devemos colocar isso em perspectiva.
É claro que temos, em certa medida, mais direitos de escolha do que os cavalos. Contudo, historicamente, homem e cavalo se beneficiaram do convívio um com o outro, e não podemos dizer que um se beneficiou mais do que o outro, de forma alguma! Não se trata de escolhas ou da falta delas, trata-se de um convívio mútuo que beneficiou as duas espécies. Se nos beneficiamos da internet hoje, foi porque um cavalo tirou o homem da forma bípede e rompeu a perspectiva de velocidade da época, nos levando até a Lua em 1969. Os cavalos, por sua vez, se espalharam pelo globo (porque a terra é esférica, certo?) em milhares de raças, uma mais diversificada que a outra. Do ponto de vista das espécies, os cavalos se deram muito bem! Obrigado! Tanto que hoje você pode dizer que cavalos possuem trabalhos dignos. Coisa que até bem pouco tempo era impossível afirmar. Eu diria até que esses trabalhos dignos podem ser mais dignos do que o seu, talvez!
Temos que melhorar? CLARO! Isso é evidente. O esporte é praticado de maneira ruim em muitos lugares. O Brasil melhorou muito, mas comparativamente ainda está atrasado, anos-luz, de muitos países no que se refere à equitação, estrutura, manejo, por exemplo. Os órgãos fiscalizadores precisam ser mais sérios e punir mais severamente aqueles idiotas que insistem em queimar o nosso filme? Evidentemente! Tem muita gente que ainda não entendeu que não é necessário bater, que não é necessário castigar um cavalo para nada. E eu acredito que essa gente seja minoria, mas barulhenta e motivo de toda vergonha que vez ou outra passamos.
Temos a faca e o queijo na mão para sermos melhores! Evidentemente! Agora, dizer que o esporte equestre maltrata o cavalo só pode partir de alguém que está muito distante para entender a complexidade que é o mundo do cavalo. É um discurso infantilizador!
Quem nunca recebeu uma fungada no cangote com aquele cheiro característico do beiçudo, não entendeu nada da vida! Ah, antes que eu me esqueça: "mas o homem é mau!" Nisso, concordamos! O homem é mau pra cacete, e isso não tem solução, mas a gente pode prevenir com punições? Mexendo no bolso seria um bom começo?
Acompanhe o trabalho do Darko:
Instagram @darkomagalhaes
YouTube Darko Magalhães
Dica de Paddock
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